terça-feira, 3 de novembro de 2015

O TEMPO DAS PRESIDENCIAIS

Chegou o tempo das Presidenciais. Multiplicam-se as iniciativas, as tomadas de posição, os anúncios de novas adesões. A pressão sobre os media para mostrarem as agendas da pré-campanha é agora maior. Durante os próximos meses, a cobertura mediática será crescente. Por isso, é um bom exercício crítico observar a forma como os poderes da comunicação vão fabricar vencedores, trabalhar imagens e narrativas. Para começar, pareceu-me assistir a um grupo de jornalistas de um canal de TV privado a assumir um papel semelhante a uma comissão de lançamento de uma candidatura à Presidência. Programado com tempo, recursos e estratégias comunicativas de fácil adesão, este acontecimento encenado fora do jogo político democrático, traz-nos a uma nova realidade que suscita muitas interrogações.

O tempo das Presidenciais é um tempo de decisão que confronta cada cidadão e cada cidadã com o nosso futuro coletivo. É uma decisão para cinco anos. Por isso, deve ser devidamente ponderada.

O Presidente da República é um órgão de soberania unipessoal que tem de ser eleito com mais de metade dos votos validamente expressos (sem brancos e nulos). À partida, no contexto atual, tal pressupõe uma personalidade íntegra e uma abrangência de apoios que transponha a paisagem partidária.

A primeira questão que podemos colocar é a seguinte: um candidato ou candidata que seja proposto por uma organização partidária e a represente na totalidade ou em parte (isto quer dizer ter em conta os seus interesses, as interdependências funcionais e as expectativas que lhe estão subjacentes) não estará à partida diminuído/a na sua função de representar a diversidade sociocultural, política e económica do povo português? Estou convicto que sim. Sem pôr em causa as suas candidaturas e valias pessoais, parece-me que a forma como emergiram as candidaturas de Maria de Belém (PS), Edgar Silva (PCP) e Marisa Matias (BE), representam mais as forças que habitam o interior dos partidos ou as suas direções, do que um verdadeiro projeto político mobilizador para os desafios que o país enfrenta. Assumem, por esse facto, um sentido tático da ação política.

A segunda questão prende-se com o posicionamento político de cada candidato ou candidata (princípios, valores, atitudes, prospectiva, pensamento global). A genealogia das ideologias políticas ajuda-nos aqui a encontrar a matriz de posicionamento dos três candidatos mais conhecidos que se apresentaram sem a visibilidade de máquinas partidárias: Henrique Neto, Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa. De forma simples, numa primeira abordagem, podemos situar Marcelo Rebelo de Sousa na direita liberal e Henrique Neto e Sampaio da Nóvoa na esquerda democrática e humanista.

Assim sendo, Marcelo é o candidato da situação, por muito que tente agora afastar-se da influência de Cavaco Silva e das ideias da AD – coligação de centro direita – que formou com Paulo Portas. A adesão à sua candidatura do nacionalista Alberto João Jardim, mostra o pragmatismo da direita anticonstitucional que o reconhece como trunfo político. Não faltará muito tempo para à sua volta se juntarem os mesmos de sempre.

Na outra matriz, Henrique Neto tem um histórico de oposição ao regime do Estado Novo enquanto militante do PCP e ao situacionismo socrático no interior do Partido Socialista. Personalidade inconformista, foi subscritor de diversos manifestos para uma maior democratização do país.

Num território mais amplo, atravessando as fronteiras políticas tradicionais e trazendo consigo as novas cidadanias democráticas, com uma visão mais moderna do sistema político e dos desafios da sociedade contemporânea, Sampaio da Nóvoa afirma-se pelo seu carisma, independência, capacidade de criar consensos e de gerar sinergias para objetivos comuns.

sábado, 31 de outubro de 2015

NÃO DEIXEM SECAR O TERRENO DA DEMOCRACIA

Só uma mente brilhante e uma personalidade ímpar poderia obter o pleno dos três ex- Presidentes da República da nossa democracia e obter o apoio de inúmeras pessoas que convictamente veem  nele a esperança para um país às voltas num labirinto de corrupção e tristeza.

Sampaio da Nóvoa fertiliza o terreno da democracia. Cuida e faz brotar. Não exclui. Dá a cada cidadão e cada cidadã o seu lugar no nosso futuro coletivo. E isso faz toda a diferença.

Sampaio da Nóvoa tem princípios, tem ideias,  tem projetos, tem desafios para o Portugal contemporâneo. Sabe dialogar e criar consensos. Sabe cativar e valorizar iniciativas. Sabe inovar e empreender. E isso faz toda a diferença.

Sampaio da Nóvoa conhece a nossa história coletiva, a nossa cultura artística, musical e literária, a nossa cultura popular. Sabe da educação e da ciência. Conhece outros mundos - desenvolvidos e não desenvolvidos - com os quais tem redes intensas de diálogo e amizade. E isso faz toda a diferença.

Sampaio da Nóvoa tem um profundo respeito pela nossa língua, pela imensa comunidade de falantes que com ela comunicam. Sabe das sinergias que ela pode criar e desenvolver. E isso faz toda a diferença.

Sampaio da Nóvoa não deixa secar o terreno da democracia. Rega as suas raízes e contém as ervas daninhas. Sabe o lugar dos partidos e dá visibilidade às pessoas - a todas as pessoas - a muitas das quais uma economia sem rosto e sem escrúpulos tirou a dignidade. E isso faz toda a diferença.

Sampaio da Nóvoa dá um novo rosto à nossa democracia, às nossas instituições públicas, à nossa posição na União Europeia e no Mundo.

Por tudo isto - e por tudo o mais que estas palavras não sabem dizer - nós precisamos de Sampaio da Nóvoa para retomarmos a nossa confiança e identidade como povo. 

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

BIRRA OU TALVEZ NÃO...*


Se te exigissem deixar de pensar
para seres professor,
se te exigissem deixar de escrever
para seres escritor,
se te exigissem deixar de lutar
para seres cidadão,
o que farias?




A mim, apetece-me
pensar cada vez mais,
escrever cada vez mais e
lutar cada vez mais pela liberdade,
contra a bizarria, a prepotência e a demagogia.
E pedir aos professores
para serem,
ainda mais,
professores de corpo inteiro.

E pedir aos cidadãos
para serem,
ainda mais,
cidadãos a tempo inteiro.

*Este texto foi escrito em 2006, quando a sensibilidade para a linguagem sensível ao género - isto é, não androcêntrica - não era ainda consequente. As palavras professor, escritor e cidadão só fazem sentido se também incluirem o feminino.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O “Lobo Mau” da educação

Considerações sobre a avaliação de desempenho dos professores*

Era uma vez um pequeno país que tinha oficialmente dois milhões de pobres, as mais altas taxas de violência doméstica, de gravidez na adolescência, de infecção por VIH, de abuso sexual, de abandono escolar, de analfabetismo, de alcoolismo, de toxicodependência, de desemprego…
Neste pequeno país, muitas crianças viviam em instituições de acolhimento, sem família e, tantas vezes, sem o respeito à protecção da sua dignidade.
Neste pequeno país aconteciam coisas estranhas. Fechavam escolas, hospitais e fábricas mas abriam bancos, campos de golfe e hotéis de luxo. Os custos de ensino para as famílias aumentavam enquanto o orçamento para a educação diminuía. As escolas vendiam refrigerantes com açúcar e cafeína, mas não ensinavam os jovens a utilizar os preservativos nem a prevenir as doenças sexualmente transmissíveis. Os alunos tinham que permanecer cada vez mais tempo nas escolas mas estas não tinham espaços adequados nem confortáveis. Talvez por isso, os jovens escreviam nas paredes e no mobiliário mensagens estranhas, à espera que alguém as soubesse ler. Os que se sentiam pior, traziam a agressividade, a violência e o mal-estar das suas casas para as salas de aula e recreios.
Neste pequeno país orgulhoso da sua História, lia-se pouco, escrevia-se mal e, crescia-se de costas voltadas para a ciência. A principal cultura era o futebol. A principal religião, o consumo.
Neste pequeno país, há muito tempo que se dizia uma coisa e se fazia outra. Por isso, as pessoas foram-se habituando a viver com a desfaçatez e a mentira. A verdade, a honra, a honestidade, o bem comum, passaram a ser coisas confusas, valores deslizantes. Parecer tornou-se mais importante do que ser. Ter, mais do que partilhar. O falar escondia mais do que revelava. Uma profusão de imagens mascarava a realidade e embalava as pessoas em sonhos impossíveis.

Neste país, cada vez mais cinzento, havia professores. Como não queriam que os pássaros da tristeza fizessem ninhos nas cabeças dos seus alunos, nunca se calaram. Manifestavam-se, faziam greves, tinham sindicatos. Escreviam nos jornais e revistas, falavam nas rádios e nas televisões, utilizavam a Internet. Denunciavam as injustiças sociais, a corrupção, o clientelismo, o atraso do país, a pobreza, a falta de condições das escolas, o abandono das crianças e jovens, a desresponsabilização das famílias, a falta de apoio às crianças diferentes, a perda de valores de solidariedade, a má gestão da escola pública. Sabiam do que falavam porque todos os dias enfrentavam nas escolas as dificuldades pessoais e familiares dos alunos, os seus problemas, angústias, desejos e expectativas. Queriam uma escola diferente e um país diferente porque sabiam que sem uma boa educação, não havia cidadania nem futuro. E, por isso, nunca se calaram.
Mas neste país cada vez mais cinzento, quem governava não gostava dos professores porque a sua voz era incómoda. Com habilidade, quem tinha mando inventou muitas histórias para os desacreditar, desvalorizar e dividir. Ao longo de muitos meses, políticos e assessores pagos a peso de ouro, trabalharam arduamente, para fazer crer que os professores eram, afinal, o “Lobo Mau” da educação. E mudaram as regras. E mudaram as leis. E alteraram aleatoriamente as regras de concurso, aumentaram o horário de trabalho, impuseram novas funções, subverteram o estatuto da carreira docente e inventaram um bizarro certame de pontos, de carácter acentuadamente burocrático, para dividir os professores em duas categorias: os com título e os sem título. Aos primeiros ficava reservado o desempenho de um novo papel, síntese de “manga-de-alpaca” e “capataz”. Dividir para reinar, um princípio muito antigo!
Neste pequeno país, o todo-poderoso gabinete de propaganda inventou um sinistro ladrão de palavras para complicar o vocabulário dos professores. O seu trabalho era substituir, por artes diabólicas, as palavras coragem, alegria, inconformismo sempre que eram pronunciadas ou escritas, por outras como medo, tristeza, passividade. Mas mesmo assim, os professores não se calaram.
Um novo sistema de avaliação de desempenho foi então desenhado para habitar implacavelmente as escolas: comissões e mais comissões; júris e mais júris; grelhas e mais grelhas; relatórios, observações, fichas, exames, entrevistas, observações, reuniões, votações, decisões, reclamações, recursos… horas e mais horas, estatísticas e mais estatísticas, papéis e mais papéis, discussões e mais discussões, pareceres e mais pareceres. E depois, uma minúscula quota de acesso… só para muito poucos, claro, por muito bons que sejam todos. Adivinha-se o gasto de actividade, a mobilização de recursos e de energias que deveriam estar antes ao serviço dos alunos, da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Poucos confiam na validade deste sistema de avaliação do desempenho. Menos ainda acreditam que por esta via se pode aumentar a motivação dos professores ou melhorar a qualidade do trabalho necessário nas escolas. Muitos sabem que se trata, essencialmente, de impedir bons profissionais de progredir aos últimos escalões da carreira, para que os dinheiros públicos possam continuar a pagar as mordomias de políticos, assessores e administradores. Muitos sabem que o objectivo final é destruir uma cultura profissional democrática, substituindo-a por um sistema hierárquico funcional de transmissão do poder. Conformismo, individualismo, obediência, policiamento, falsidade, desconfiança, sentimento de inferioridade contra dinamismo, cooperação, negociação, solidariedade, partilha, colaboração, trabalho em equipa, autoconfiança. Dois sistemas. Um, normativo e burocrático, baseado em dispositivos panópticos de vigilância e controle. Outro, democrático e colaborativo, baseado em processos de trabalho em equipa e de regulação organizacional. Duas formas radicalmente diferentes de equacionar os problemas da educação e o futuro da sociedade.
Afinal, quem já se esqueceu que a história do Lobo Mau é do tempo em que os animais falavam?

* Este texto foi escrito em 16/11/2007, num contexto muito difícil para a profissão docente.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

As TIC na Escola em tempos de mudança*

Comecemos por uma fábula:

“No tempo em que os animais falavam, há milhares de anos atrás, aconteceu que duas rãs tiveram o azar de cair nuns charcos de leite. Uma delas começou a lamentar-se da sua pouca sorte e a pedir auxílio. Vendo que ninguém a ajudava começou a croar e a protestar, morrendo pouco tempo depois com todos os seus lamentos.
A outra rã pedia socorro enquanto tentava nadar. Ao ver que ninguém acudia em seu auxílio, em lugar de continuar a lamentar-se, começou a nadar e a mover as suas patas com tanta fúria, constância e afinco que o leite se converteu em manteiga. Com o leite solidificado, pôde sair tranquilamente.”

Como todas as fábulas, esta também encerra ensinamentos. No mundo complexo e incerto em que nos movemos, a valorização do esforço e do optimismo são uma “pedrada” no charco dos discursos mesquinhos e tecnocráticos em que nos querem enredar. A descoberta de que os lamentos, por si só, não nos ajudam a resolver os problemas e que lutar por causas solidárias nos é mais gratificante, pode fazer a diferença.
As próximas décadas serão de profundas mudanças na vida das sociedades europeias. Os reptos que hoje enfrentamos na educação, na saúde, na segurança social, na economia e na na cultura, tendem a multiplicar-se. Em parte, porque as democracias modernas são de base científica e tecnológica e estas são áreas sujeitas a uma mudança acelerada. Daqui decorrem duas questões essenciais que nos irão acompanhar durante muito tempo: como colocar a ciência e a tecnologia ao serviço da qualidade de vida das pessoas e da justiça social? Qual o papel da escola neste desafio?
Em resultado destas mudanças, a época em que vivemos é muitas vezes designada como “era do conhecimento e da informação”. De facto, a possibilidade de informatizar todos os domínios da vida quotidiana e de digitalizar todos os produtos da criação humana trouxe-nos um mundo novo: a realidade virtual. Neste, o real e a aparência nem sempre se distinguem com clareza. Por vezes, o conhecimento confunde-se com o “nevoeiro informacional”. E os discursos da mentira, quando bem simulados na comunicação social, tornam-se facilmente verdades inquestionáveis. Por incrível que pareça, quem tem o poder, o saber e os meios de dizer o que deve ser a “verdade” muitas vezes é bem sucedido.
É um mundo difícil, bem o sabemos. Como humanizá-lo? O que fazer para diminuir a pobreza, a violência, a ganância, a desigualdade? Qual o caminho para o respeito da biodiversidade do nosso planeta, a “nossa casa comum”? Pensamos que ninguém terá a certeza dos caminhos a seguir, porque podem ser muitos e diversos. Também sabemos que não podemos mudar o princípio. Mas se nos empenharmos, talvez possamos mudar o final.
É aqui que entra a Escola, instituição local e global, por onde devem passar todas as crianças do planeta. É o lugar da humanização da tecnologia através da comunicação pedagógica. É o lugar da prevenção dos comportamentos de risco, incluindo o da dependência dos videojogos. É lugar do questionamento, da análise crítica e da reflexão participada. É o lugar do trabalho de equipa, da aprendizagem ética e estética. É o lugar do esforço, bem certo, mas também o da gratificação pelos caminhos percorridos e obstáculos superados. É ainda, por mais utópico que pareça, um lugar de esperança e de optimismo. É ainda, por mais contra a corrente que seja, um lugar de afirmação dos direitos humanos e sociais.
Às novas dependências do séc. XXI, a Escola tem de contrapor uma cultura colaborativa e pró-activa, baseada no esforço e na obtenção das ferramentas que permitam aprender com autonomia. A ideia de que aos alunos com insucesso ou fracos recursos basta deixá-los abandonados às novas tecnologias em qualquer sala de informática, para compensar as suas dificuldades e ansiedades, apenas acentua as desigualdades. Os recursos informáticos na Escola têm que contribuir para ensinar os alunos a aprender, comunicar e resolver problemas com autonomia e cooperação.
Contudo, para que a Escola possa continuar a desempenhar o seu importante papel educativo são necessárias pessoas e recursos. Pessoas dignificadas e não humilhadas. Preparadas para trabalhar na base de relações de coordenação de esforços e não de subordinação a interesses ou carreiras pessoais. Motivadas para descobrir, imaginar, fazer e inovar.
Foram estes os princípios e os fundamentos que nos levaram a concorrer à medida de financiamento lançada pela Unidade de Missão Computadores, Redes e Internet nas Escolas do Ministério da Educação (CRIE), com o projecto “Inovar na diversidade para melhorar a qualidade”. Com este projecto, a Escola EB 2,3 de Cantanhede beneficia agora de uma rede sem fios de acesso à Internet, de um projector multimédia e de 24 computadores portáteis para trabalho profissional dos professores e aprendizagem dos alunos em sala de aula.
O projecto está a dar os primeiros passos com a instalação das infra-estruturas de rede e sala de apoio ao projecto, formação de professores, preparação de materiais pedagógicos e criação de uma página na Internet, alojada no Web site da Escola, com o endereço
http://www.eb23-cantanhede.rcts.pt/www/inovar2.htm.Estas páginas disponibilizam informação para pais e encarregados de educação, recursos para professores e actividades interactivas para os alunos.
Muito trabalho já foi feito. Muito haverá a fazer. Acreditamos que aquilo a que chamam excelência não é um feito só de alguns, mas tudo o que fazemos com motivação, persistência, prazer e interesse social.


*Este texto foi escrito em 7/12/06, quando era responsável pelo Projeto Inov@r na Escola EB 2,3 de Cantanhede.