Chegou o tempo das Presidenciais.
Multiplicam-se as iniciativas, as tomadas de posição, os anúncios de novas
adesões. A pressão sobre os media para mostrarem as agendas da pré-campanha é
agora maior. Durante os próximos meses, a cobertura mediática será crescente. Por
isso, é um bom exercício crítico observar a forma como os poderes da
comunicação vão fabricar vencedores, trabalhar imagens e narrativas. Para
começar, pareceu-me assistir a um grupo de jornalistas de um canal de TV
privado a assumir um papel semelhante a uma comissão de lançamento de uma candidatura
à Presidência. Programado com tempo, recursos e estratégias comunicativas de
fácil adesão, este acontecimento encenado fora do jogo político democrático,
traz-nos a uma nova realidade que suscita muitas interrogações.
O tempo das Presidenciais é um
tempo de decisão que confronta cada cidadão e cada cidadã com o nosso futuro
coletivo. É uma decisão para cinco anos. Por isso, deve ser devidamente ponderada.
O Presidente da República é um
órgão de soberania unipessoal que tem de ser eleito com mais de metade dos
votos validamente expressos (sem brancos e nulos). À partida, no contexto
atual, tal pressupõe uma personalidade íntegra e uma abrangência de apoios que transponha
a paisagem partidária.
A primeira questão que podemos
colocar é a seguinte: um candidato ou candidata que seja proposto por uma
organização partidária e a represente na totalidade ou em parte (isto quer
dizer ter em conta os seus interesses, as interdependências funcionais e as
expectativas que lhe estão subjacentes) não estará à partida diminuído/a na sua
função de representar a diversidade sociocultural, política e económica do povo
português? Estou convicto que sim. Sem pôr em causa as suas candidaturas e
valias pessoais, parece-me que a forma como emergiram as candidaturas de Maria
de Belém (PS), Edgar Silva (PCP) e Marisa Matias (BE), representam mais as forças
que habitam o interior dos partidos ou as suas direções, do que um verdadeiro
projeto político mobilizador para os desafios que o país enfrenta. Assumem, por
esse facto, um sentido tático da ação política.
A segunda questão prende-se com o
posicionamento político de cada candidato ou candidata (princípios, valores,
atitudes, prospectiva, pensamento global). A genealogia das ideologias
políticas ajuda-nos aqui a encontrar a matriz de posicionamento dos três
candidatos mais conhecidos que se apresentaram sem a visibilidade de máquinas
partidárias: Henrique Neto, Marcelo Rebelo de Sousa e Sampaio da Nóvoa. De
forma simples, numa primeira abordagem, podemos situar Marcelo Rebelo de Sousa
na direita liberal e Henrique Neto e Sampaio da Nóvoa na esquerda democrática e
humanista.
Assim sendo, Marcelo é o
candidato da situação, por muito que tente agora afastar-se da influência de
Cavaco Silva e das ideias da AD – coligação de centro direita – que formou com
Paulo Portas. A adesão à sua candidatura do nacionalista Alberto João Jardim,
mostra o pragmatismo da direita anticonstitucional que o reconhece como trunfo político.
Não faltará muito tempo para à sua volta se juntarem os mesmos de sempre.
Na outra matriz, Henrique Neto
tem um histórico de oposição ao regime do Estado Novo enquanto militante do PCP
e ao situacionismo socrático no interior do Partido Socialista. Personalidade
inconformista, foi subscritor de diversos manifestos para uma maior democratização
do país.
Num território mais amplo,
atravessando as fronteiras políticas tradicionais e trazendo consigo as novas
cidadanias democráticas, com uma visão mais moderna do sistema político e dos
desafios da sociedade contemporânea, Sampaio da Nóvoa afirma-se pelo seu
carisma, independência, capacidade de criar consensos e de gerar sinergias para
objetivos comuns.